sábado, 21 de novembro de 2009

Histeria coletiva


Confesso que demorei a tocar nesse assunto porque queria acompanhar na mídia a repercussão do caso para ver até onde iria parar. Primeiro, vamos aos fatos: no dia 22 de outubro de 2009 houve um verdadeiro tumulto no campus São Bernardo da faculdade Bandeirantes de São Paulo (Uniban). O motivo: a aluna Geisy Arruda fora para a aula trajando um - curto - vestido rosa choque. As formas voluptuosas de Geisy são sufucientes para chamar a atenção para si; o vestido curto serviu para causar o grande frisson na universidade. Vamos dar uma parada no texto aqui. Sejamos sinceros, caros leitores. Uma mulher trajando um vestido curto pode não ser o melhor traje para se frequentar uma faculdade dizem uns, mas será que é motivo para (literalmente) parar um campus com mais de 700 alunos? O que ocorreu foi um verdadeiro caso de histeria coletiva. Um grupo de rapazes começaram a perseguir a aluna e, aos berros de "Puta, puta!" começaram toda a bagunça. Eis que o circo estava armado! De repente, outros alunos começaram a chegar e também aos berros começaram a evocar curiosidade de toda a faculdade. Em poucos minutos, a situação ficou totalmente fora de controle: foi necessário acionar a polícia para fazer escolta a garantir a segurança física da aluna. Não bastando todo o caso circense ocorrido na faculdade, quando a notícia chegou na mídia a faculdade Bandeirante de São Paulo tomou, sem nenhuma sensibilidade, uma decisão no mínino estranha. Expulsar a aluna Geisy. A faculdade adotou uma postura inversa; partiu para a culpabilização da vítima. Colocou a "culpa" do tumulto na aluna. Pensemos meus caros e inteligentes leitores; vivemos em um país com clima tropical. Não sejamos hipócritas imaginando que em pleno calor que estamos vivendo, ela não teria direito de vestir-se de forma mais agradável (para si). Não estou defendendo aqui o vestido. Apenas lembro que vivemos em um país livre e, segundo a Constituição Federal, temos o direito de trajarmos aquilo que nos deixa satisfeitos. Claro, existe sempre o bom senso; existem roupas que não são adequadas para certos ambientes. Mas essa é uma outra história. Como uma sociedade que educa suas meninas ao som de "segura o tcham" e mais adiante apresenta o "créu" pode cobrar esse tipo de sensatez? A sociedade brasileira é machista? Aqui vai uma questão para se considerar: a maioria das famílias brasileiras é liderada por mulheres. Então seriam as mulheres que têm tornado nossa sociedade "machista"? Confuso não? Muito. Aqui o ponto a ser discutido não é a questão se o vestido estava adequado ou não à um ambiente acadêmico (o que certamente não o é). Aqui o ponto culminante é a discussão da falsa moralidade, ou melhor ainda, a moralidade midiática a que estamos acostumados a discutir. É fácil apontar o dedo quando estamos do lado de cá. Mais curioso ainda, foi a postura adotada pela faculdade. Uma instituição de ensino superior tem, ou deveria ter, como premissa básica a garantia da cidadania, tendo uma importantíssima função de colaborar com o desenvolvimento social. Mas não foi isso o que ocorreu. A Uniban decidiu, uma semana depois, abrir sindicância afirmando que “repudiava qualquer manifestação de preconceito”. O resultado da investigação foi revelado em pleno domingo, dia 8 de novembro, por meio de um anúncio publicado em jornais paulistas, intitulado “educação se faz com atitude e não com complacência”. Geisy estava expulsa da Uniban. A mesma universidade que durante a sindicância havia repudiado qualquer forma de preconceito. Três dias depois, a instituição, sob forte pressão da opinião pública, revogou a decisão e voltou a admitir a estudante em seu quadro de ensino. Estranho? O próprio reitor da Uniban, Heitor Pinto Filho, diante de tantas reviravoltas, não sabe mais o que fazer. “As pessoas esperam o mínimo de humanidade por parte das empresas. Em nenhum momento, a Uniban chamou Geisy para conversar ou convocou uma reunião com todos os envolvidos para debater o assunto.” Agir de forma rápida e segura, deixando o mínimo espaço para questionamentos da opinião pública, faz parte do receituário de qualquer bom gerenciador de crise. A Uniban parece ter seguido a cartilha inversa. “Eles apagaram fogo com gasolina. Ao punir a vítima, a universidade conseguiu, em pouco tempo, mobilizar a sociedade inteira contra ela, do Procon à OAB”, afirma Edson Crescitelli, professor da FEA/USP e especialista em marketing. Para Crescitelli, a Uniban só irá conseguir diminuir os prejuízos causados pelo “caso do vestido rosa choque”, a médio e longo prazo. “agora, com o apagão, a Uniban sairá um pouco do noticiário, mas será lembrada como a “Universidade Talibã” ou “Uniburca”, apelidos que já pegaram e certamente vão diminuir o número de matriculados nos próximos anos.” Termino dizendo que não estou contra a Uniban nem tampouco a favor de Geisy. Estou sim contra a falta de tato da sociedade brasileira e das instituições de ensino superior cuja função é garantir debates honestos e coerentes e nunca fomentar o preconceito e o senso comum.

PS: "Seu corpo é fruto proibido. É a chave de todo pecado e da libido e prum garoto introvertido como eu é a pura perdição" (Olhar 43 - RPM)

Um comentário:

Vinicius Alves disse...

A muleke muito bom so podia ser vc mesmo, muito bom o texto!!!!